sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Sl 119. 9-16; Ec 5. 10-20; Hb 4. 1-13; Mc 10. 23-31 - Egon



As Verdadeiras Riquezas

Era um dia muito bonito. Fazia um sol muito gostoso naquela manhã. O clima era fresco, ainda com o cheiro do orvalho matinal. As pessoas estavam começando os seus trabalhos diários com tranquilidade, e assim o dia ia indo em um crescente, como os raios da aurora vão avançando sobre montes e campos: aos poucos.
De repente, um alvoroço chama a atenção de um homem distinto. Ao levantar os seus olhos, ele observa um mestre cercado por alunos, ávidos por conhecimento. Este homem já ouvira falar neste mestre, e até já havia ficado interessado em conhecê-lo pessoalmente, mas todos os seus afazeres o impediam. Afinal, não era fácil para ele administrar todos os negócios da família. Ele não podia viajar, nem abandonar seu trabalho por muito tempo. Mas era feliz. Dava muitas festas e sempre convidava seus muitos amigos.
A riqueza para ele sempre foi sinal de bênção de Deus. Ter nascido em um berço de ouro era sinal de grande misericórdia por parte de Deus. Em seu pensamento, os pobres eram uns coitados, abandonados e esquecidos, por Deus e pelas pessoas.
Mas, agora, era um momento diferente. Uma oportunidade única. Diante de si estava aquele grande e conhecido mestre e, mesmo sem ter que abandonar seu trabalho, suas festas, ele teria a chance de fazer a pergunta que mais lhe inquietava o coração. Sem se dar conta das pessoas que estavam conversando com o mestre, aquele homem correu ao encontro da sua resposta. Suas roupas coloridas, de tecidos caros esvoaçavam ao vento, até que ele ficou cara a cara com o mestre. Esbaforido, ele olhou para o rosto surrado pelo sol e pela areia daquele mestre e, ajoelhando-se diante dele, finalmente fez a pergunta que lhe atormentava:
“Bom mestre, o que devo fazer para conseguir a vida eterna?”
O mestre olhou para aquele homem, viu sua alegria e seu orgulho em finalmente fazer a pergunta, e também viu a expectativa em ter a resposta tão esperada. Viu que aquele homem era um homem honrado, cumpria seus deveres, pagava seus impostos, tinha muitos amigos, e que desejava ter afirmado o seu caminho para o céu. Ele esperava que o mestre dissesse exatamente aquilo que ele já fazia: “Não mate, não cometa adultério, não roube, não dê falso testemunho contra ninguém, não tire nada dos outros, respeite o seu pai e sua mãe.” E qual não foi a surpresa do homem quando o mestre disse justamente o que ele esperava: “Não mate, não cometa adultério, não roube, não dê falso testemunho contra ninguém, não tire nada dos outros, respeite o seu pai e sua mãe.” Ele teve a certeza absoluta de que era uma pessoa muito amada por Deus e que o seu destino era ir para o céu, porque era uma pessoa bondosa com os pobres, “aqueles pobres coitados”.
Mas o mestre olhou para ele com muito amor, e vendo tudo o que se passava no coração daquele homem, disse: “Para você ir para o céu, falta mais uma coisa para você fazer: venda tudo o que você tem e dê aos pobres. Depois venha comigo.”
O coração daquele homem tremeu. Pareceu parar por um tempo. Congelou. Vender tudo o que havia conquistado com tanto suor? Aquilo não parecia justo, não parecia certo. De tudo o que ele prezava e gostava ele deveria se desfazer. Em seu coração surgiram pensamentos como “acho que vou esperar quando estiver mais velho”, “será que esse é o único jeito? E se eu der metade de tudo o que eu tenho não será suficiente? Afinal, eu tenho muito dinheiro e terras!” Estava prestes a chorar ali, na frente de todas aquelas pessoas que acompanhavam o mestre, mas se segurou. Não choraria. Manteria o seu orgulho e os seus bens. “Quem disse que este homem é um grande mestre? Ele não sabe de nada! Deve existir outros meios de eu chegar a Deus, afinal eu sou uma boa pessoa.”
Lentamente aquele homem levantou-se e antes de virar as costas e voltar para sua casa olhou firmemente para os olhos daquele homem que chamavam de mestre. Não percebeu naquele olhar nenhum indício de ironia, nem de raiva, nem de orgulho, mas viu simplesmente compaixão. Aquele mestre realmente estava falando sério! O único modo de estar com Deus seria tornando-se como aqueles mendigos que o acompanhavam. Finalmente, virou as costas e foi-se, caminhando lentamente.
Ainda conseguiu ouvir as vozes dos alunos conversando entre si sobre o que tinham visto. “Que tolo eu fui,” pensou o homem, “me humilhando deste jeito. Ele é que devia se ajoelhar diante de mim”, ponderou. Então ouviu o mestre falar, com uma voz pesarosa, doída, sentida. Ouviu ele dizer que um rico dificilmente entraria no reino de Deus, porque os ricos amam mais o dinheiro do que o próprio Deus. Era tão difícil quanto um camelo passar ajoelhado por um buraco pequeno. O homem sabia o que isso significava, os camelos somente conseguiam andar em pé, nunca ajoelhados e ainda mais, passando por um buraco pequeno. “Então é impossível a gente entrar no céu!” responderam várias vozes ao mesmo tempo. Era a conclusão que o homem havia chegado junto com os alunos do mestre. Era melhor esquecer aquilo e continuar cuidando dos negócios, das festas. Foi quando ele ouviu, pela última vez, a voz do mestre.
“Para os seres humanos isso não é possível; mas para Deus é, pois para Deus tudo é possível.”
Para Deus tudo é possível! Essas palavras precisam entrar em nosso coração. Aos pés do mestre Jesus, temos a bênção de ouvi-lo dizer: Para Deus tudo é possível! A salvação que nós nunca conseguiríamos alcançar nem com todas as riquezas do mundo, com todos os dons e com todo o tempo, agora são colocadas em nossas mãos. Enquanto no coração daquele homem rico havia espaço somente para suas próprias riquezas, não havia espaço para Deus, para o seu amor, para o seu reino.
 Aquele homem que foi embora triste, apegado a seus tesouros, ainda ouviu os discípulos se vangloriando, dizendo: “Veja! nós deixamos tudo e seguimos o senhor!” Não precisamos deixar tudo para seguir Jesus, mas colocar tudo nas mãos dele. Este “tudo” inclui nossa casa, nossa família, nossos bens e nossa vida inteira. Estar nos braços do Senhor Jesus não é algo que você tenha de fazer abandonando aqueles que lhe amam, nem aqueles que Ele mesmo colocou em sua vida, mas justamente o contrário.
 Será que aquele homem rico não se lembrou das palavras de Eclesiastes?
“10 Quem ama o dinheiro nunca ficará satisfeito; quem tem a ambição de ficar rico nunca terá tudo o que quer. Isso também é ilusão. 11 Quanto mais rica é a pessoa, mais bocas tem para alimentar... 12 O trabalhador pode ter pouco ou muito para comer, mas pelo menos dorme bem à noite. Porém o rico se preocupa tanto com as coisas que possui, que nem consegue dormir.
16...Nós vamos embora deste mundo do mesmo jeito que viemos. Trabalhamos tanto, tentando pegar o vento, e o que é que ganhamos com isso.
 19 Se Deus der a você riquezas... e deixar que as aproveite, fique contente... Isso é um presente de Deus. 20 E você não sentirá o tempo passar, pois Deus encherá o seu coração de alegria.
 Como seria bom se aquele homem descobrisse o quanto é grande o amor daquele mestre por ele. Um amor capaz de dar a própria vida em resgate dele. Um amor que, resignado abre os braços e exclama: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem!” Um amor que estende os seus braços na cruz e assim concede ao mundo a maior riqueza que pode existir, o perdão, a vida e a salvação! Como seria bom se todas as pessoas, de todos os países, de todos os tempos, descobrissem que a verdadeira riqueza é aquela que é dada na cruz! A verdadeira riqueza que Deus concede a nós não são os bens, ou mesmo os carismas, mas o sangue e a vida do Salvador e Mestre Jesus.
 Se você tem muitas riquezas deste mundo, não se deixe enganar. Se você não tem as riquezas deste mundo, não se deixe enganar também. O verdadeiro tesouro está ao alcance de todos: o amor de Jesus.